Um dos pontos distintivos que caracterizam o meu programa de beneficiamento do Cão da Serra da Estrela é a recuperação do padrão raiado na variedade de pêlo comprido. Não se trata de uma mera questão estética de gosto subjectivo. Essa cor de pelagem (ou melhor, cores, já que o padrão existe nas diversas tonalidades de fulvo e cinza), ainda hoje comum nos exemplares de pêlo curto, sempre foi seleccionada pelos pastores pela razão da funcionalidade. Tal como os cães claros eram preferidos para trabalhar com rebanhos de ovelhas e cabras claras, pelo mimetismo que os camuflava entre elas, dissuadindo os ataques dos lobos, aos lobeiros e raiados era confiada a protecção dos rebanhos de cor escura.
Com a apropriação da raça pela canicultura, a maioria dos criadores dirigiu a sua criação para o gosto dos compradores, que privilegiava a variedade de pêlo comprido e a cor fulva no padrão unicolor. Por haver pouca procura, o padrão raiado tornou-se incomum nesta variedade. Para agravar a situação, os exemplares raiados que ocasionalmente participavam em exposições eram frequentemente preteridos, independentemente da sua qualidade, por juízes que desconheciam a realidade do Serra da Estrela enquanto cão de trabalho e achavam que essas cores não eram típicas. Esta situação ainda se verifica, não apenas em Portugal mas também nalguns outros países - o que em nada beneficia a raça, por fomentar o estreitamento da sua diversidade genética e o eventual desaparecimento de cores originalmente seleccionadas pela sua funcionalidade.
Na Ponta da Pinta, oriento o meu programa de criação pensando na razão de ser do Cão da Serra da Estrela. O padrão raiado é importante - e é também invulgar e de grande beleza, com a enorme variedade de tonalidades e matizes que apresenta. Ajude-me a preservá-lo, optando por um cachorro raiado.